Eu navegara demais: acabei-me por cair do mundo.
Navegante de sonhos eu sou,
Ancorado à mínguas docas oníricas,
Procurei a plenitude para meu espirito
Afoguei-me na poesia da terra,
que levantara-se - caminhando mesmo!
Suas pálpebras rochosas revelaram olhos:
um mármore frio e incólume.
Ouvi uma voz irada, quase onipresente:
-ÉS TREVA! PÉSSIMO! O PIOR!
"ESTÁS NO ESCURO! SILENTE!"
"Mas não importa, tudo é tormenta"
Apaziguou.
Despedaçou-se num escandaloso gemido:
era algum estúrdio demônio;
Mordendo o fruto do mundo;
Alguma serpente libidinosa, satânica!
Meu chão se esfarelou e quedei-me ao nada.
Flutuando no vazio deixado pelo mundo,
Que ficara jorrado -jorrada! - e caído
Com uma pequena pétala na mão.
(Giuseppe Neto)
domingo, 14 de dezembro de 2014
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Poema para Gabriela
Cantava Gabriela,
deslizando os pés na relva
- que beijava-os friamente.
Circulava por entre os canteiros,
mimetizava as borboletas.
Tornara o jardim tão terno
- ele que outrora foi lúgubre.
E sua voz - um timbre inócuo.
Era rouxinol, era cotovia.
O salgueiro chorava,
As samambaias, em desespero,
cerravam os olhos.
Efêmero.
E como a fumaça,
Gabriela dissipara-se.
Era devaneio, era sonho.
Fugia.
A relva já não beijava. Mordia.
As borboletas sem rainha, Perdidas.
O jardim que estava doce, Penumbroso.
O salgueiro e a samambaia, Morriam.
deslizando os pés na relva
- que beijava-os friamente.
Circulava por entre os canteiros,
mimetizava as borboletas.
Tornara o jardim tão terno
- ele que outrora foi lúgubre.
E sua voz - um timbre inócuo.
Era rouxinol, era cotovia.
O salgueiro chorava,
As samambaias, em desespero,
cerravam os olhos.
Efêmero.
E como a fumaça,
Gabriela dissipara-se.
Era devaneio, era sonho.
Fugia.
A relva já não beijava. Mordia.
As borboletas sem rainha, Perdidas.
O jardim que estava doce, Penumbroso.
O salgueiro e a samambaia, Morriam.
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Bonsoir, Bohéme!
Era noite de julho e estavam todos sentados.
Uns cantavam Aznavour, outros declamavam Rimbaud
e todos brilhavam no sarau da rua das luzes.
Esqueciam a miséria de seus mundos e
entupiam suas barrigas vazias de vinho.
Havia importância em suas vozes,
ainda que fôssemos meros lampejos do passado (morto).
Quem haveria de crer na amargura e no inferno?!
(Quem haveria? )
Quando estavam todos cercados por deuses
Quando estavam todos cercados por deuses
que criavam um ninho e ao menos uma vez por semana,
amavam a vida!
Dedos delicados e afoitos retiniam nas cordas,
um rouxinol dançava pela fumaça.
No palco alguém a palrar, estavam entorpecidos,
e todo o mel do mundo era consumido em seus copos.
Amigos, camaradas, Vejam bem!
Pois a centelha há de brilhar para sempre.
Que esta semente hereditária decante em nossos âmagos
Eternamente.
E nós que somos a pária sem glória,
Observamos nossos irmãos cansados
através da mesma dúbia névoa da qual os deuses os vêem.
Amanhecia nublado em julho.
E figuras dançantes buscavam suas casas,
em seus rostos, o mais terno brilho que há.
Amigos, camaradas, Vejam bem!
Pois a centelha há de brilhar para sempre.
Que esta semente hereditária decante em nossos âmagos
Eternamente.
E nós que somos a pária sem glória,
Observamos nossos irmãos cansados
através da mesma dúbia névoa da qual os deuses os vêem.
Amanhecia nublado em julho.
E figuras dançantes buscavam suas casas,
em seus rostos, o mais terno brilho que há.
Giuseppe Neto
sábado, 26 de julho de 2014
Homem Morto V
Eis que surge a Morte - tão bela, em suas vestes negras;
Sentindo o fedor da minha alma, sibilando
incontrolada.
Eu a vejo. Vejo seus olhos. Vejo suas
formas
- um pássaro de feições
antropomórficas
Eu vejo a bruma que a envolve em candura
E o ensejo na minha falha.
Aí está ela!
Quando abro meus olhos, já está sobre
mim
como uma fleumática tormenta.
Seus dedos que outrora tocavam o alaúde
eterno,
são navalhas na minha carne.
Meu corpo apoiado em tuas idílicas asas
Chora.
Cada gota é como uma agulha,
rasgando as sedas, riscando a carne;
Cai teu sangue, banhando-me do manto
carmesim.
Do manto no qual me apresento perante
Eaco, Radamanto e Minos.
Neste mesmo lugar, que já é meu altar e
tumba.
Minha cova: um festim para os abutres! Um
banquete para os vermes!
Em meu leito, eu vomito toda cólera e
sofrimento;
Perco meu ar, entrego-me a inércia;
Aceito o manto
E em um rudimentar assovio minha vida
acaba.
sábado, 14 de junho de 2014
Angústia
Torpor surreal que engole meu corpo e
Confrange meus apelos
Eu que jazia deitado em marasmo
Sinto a tortura rasgando-me o couro.
Inaudível apelo que escancara minha boca
Queda-se trancafiado em minha garganta
Asfixia-me com desespero
e lança-me na sordidez do Vazio.
Vejo minha dor e corpos se contorcendo
Onde quer que a vista se perca.
Nada para livrar-me da tortura
E dos repugnantes gracejos demoníacos.
Tampouco no breu de meus pensamentos
encontrei paz para meu espírito.
Meus membros já fadigados se entregam à sorte.
Deitado e esquecido,
Anoitece.
Confrange meus apelos
Eu que jazia deitado em marasmo
Sinto a tortura rasgando-me o couro.
Inaudível apelo que escancara minha boca
Queda-se trancafiado em minha garganta
Asfixia-me com desespero
e lança-me na sordidez do Vazio.
Vejo minha dor e corpos se contorcendo
Onde quer que a vista se perca.
Nada para livrar-me da tortura
E dos repugnantes gracejos demoníacos.
Tampouco no breu de meus pensamentos
encontrei paz para meu espírito.
Meus membros já fadigados se entregam à sorte.
Deitado e esquecido,
Anoitece.
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
Sonhos de Boêmia
A francesa repousava encorpada no estúdio
-que me servia de quarto, escondendo-me o mundo.
O sabor da fumaça , entorpecia-me,
era então um prelúdio
para me afogar na bebida enquanto eu pintava-a nua.
O chapéu me escondia as estrelas
na crua madrugada que se sucede e eu
vagava de ateliê em ateliê com uma canção triste,
garrafa na mão e beleza tua...
Escrevia sobre o vinho e sobre dores
sobre a fornicação do ópio com a amarga alma e
inspirava a dança juvenil que se espalhava
pelas ruas de uma cidade cantora
No perfumado quarto de uma bela musa
A noite morria e lá estavam espalhados
Poetas há muito embriagados
recolhendo suas tralhas e espalhando escusas.
E morria a noite na rua das luzes,
com ela fugiam os pintores italianos
e os sonhos de boêmia.
(Giuseppe Neto)
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