quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Bonsoir, Bohéme!

Era noite de julho e estavam todos sentados.
Uns cantavam Aznavour, outros declamavam Rimbaud
e todos brilhavam no sarau da rua das luzes.

Esqueciam a miséria de seus mundos e
entupiam suas barrigas vazias de vinho.
Havia importância em suas vozes,
ainda que fôssemos meros lampejos do passado (morto).

Quem haveria de crer na amargura e no inferno?!
(Quem haveria? )
Quando estavam todos cercados por deuses
que criavam um ninho e ao menos uma vez por semana,
                           amavam a vida!

Dedos delicados e afoitos retiniam nas cordas,
um rouxinol dançava pela fumaça. 
No palco alguém a palrar, estavam entorpecidos,
e todo o mel do mundo era consumido em seus copos.

Amigos, camaradas, Vejam bem!
Pois a centelha há de brilhar para sempre.
Que esta semente hereditária decante em nossos âmagos
                    Eternamente.

E nós que somos a pária sem glória,
Observamos nossos irmãos cansados
através da mesma dúbia névoa da qual os deuses os vêem.

Amanhecia nublado em julho.
E figuras dançantes buscavam suas casas,
em seus rostos, o mais terno brilho que há.



Giuseppe Neto