sábado, 26 de julho de 2014

Homem Morto V

Eis que surge a Morte - tão bela, em suas vestes negras;
Sentindo o fedor da minha alma, sibilando incontrolada.
Eu a vejo. Vejo seus olhos. Vejo suas formas
 - um pássaro de feições antropomórficas
Eu vejo a bruma que a envolve em candura
E o ensejo na minha falha.

Aí está ela!
Quando abro meus olhos, já está sobre mim
como uma fleumática tormenta.
Seus dedos que outrora tocavam o alaúde eterno,
são navalhas na minha carne.

Meu corpo apoiado em tuas idílicas asas
                                                    Chora.
Cada gota é como uma agulha,
rasgando as sedas, riscando a carne;

Cai teu sangue, banhando-me do manto carmesim.
Do manto no qual me apresento perante Eaco, Radamanto e Minos.
Neste mesmo lugar, que já é meu altar e tumba.
Minha cova: um festim para os abutres! Um banquete para os vermes!

Em meu leito, eu vomito toda cólera e sofrimento;
Perco meu ar, entrego-me a inércia;
Aceito o manto


E em um rudimentar assovio minha vida acaba.

(Nada).                               Giuseppe Neto